Faz tempo que caiu por terra a ideia de que a área tecnológica é tradicionalmente masculina. Na última década, as mulheres estão conseguindo alcançar cargos importantes no mundo tecnológico.
Ressaltando, que este avanço é devido ao resgate da história deque mostra que mulheres estão envolvidas na computação desde a origem dos primeiros computadores. Graças a nomes como Ada Lovelace, primeira programadora da história ou Mary Kenneth Keller, que foi a primeira mulher a receber um diploma de pós-graduação em computação.
Entretanto, nas empresas de tecnologia, elas são minoria. Em companhias como Facebook, Google, Twitter e Apple, as mulheres representam apenas 30% dos funcionários.
No Brasil, a situação é ainda mais desfavorável. Dados divulgados pelo programa YouthSpark, da Microsoft, apontam que, no país, 18% dos graduados em ciência da computação e 25% dos empregados em áreas técnicas de tecnologia da informação (TI) são do sexo feminino.
Mais convites onde elas já têm maior participação
Áreas como desenvolvimento, tecnologia da informação, business intelligence, gestão de negócios, design, finanças e marketing online. Portanto, estão entre algumas das áreas onde a pesquisa detectou esse modesto avanço de convites ao público feminino.
Segundo o levantamento, o número de convites a mulheres para vagas nessas profissões cresceu de 12% em 2017 para 17% em 2019. Agora, já a diferença de remuneração oferecida para homens e mulheres era de 22,4% e passou para 23,4%, nesses mesmos anos
E não é por falta de trabalhadoras capacitadas. De acordo com a Associação Telecentro de Informação e Negócio (ATN), 36.300 mulheres formadas na área buscam colocação no mercado.
Mas certas áreas se mostraram mais inclusivas que outras.
Continuando, em gestão de negócios, onde 30% das vagas são ocupadas por mulheres. De fato, o total de convites de trabalho para candidatas na plataforma em 2019 foi de 41% – um crescimento de 13% em relação a 2017.
Já na área de desenvolvimento, com uma participação feminina de apenas 11% no mercado. Salvo que, o aumento nos convites no mesmo período foi de apenas 5%.
O gênero da pessoa responsável pela seleção e recrutamento também é um fator considerável. Entre 2017 e 2019, recrutadores homens aumentaram o número de convites para mulheres em 6%, enquanto, recrutadoras mulheres aumentaram em apenas 2%.
No passado, a discussão sobre diversidade e inclusão ficava muito limitada aos grupos que sofriam com a falta delas. Então, a disparidade de gênero era discutida só entre mulheres.
Resistência em algumas áreas
Da mesma forma, em áreas em que as mulheres são maioria, como marketing online (54%), são os homens que ocupam a maioria dos cargos de liderança (57%). Onde, essas áreas mais desiguais trazem números ainda mais expressivos.
Demaneira idêntica, em TI e desenvolvimento, que têm, respectivamente, 13% e 11% de mulheres. Os homens ocupam cerca de 92% das posições de chefia.
A área da tecnologia nasceu a partir de grandes inspirações e contribuições realizadas por mulheres.
O primeiro algoritmo da história, foi desenvolvido por Ada Lovelace. Em seguida, algumas das mais importantes linguagens de programação foram criadas pelas Irmãs Mary Kenneth Keller e Grace Hopper. De fato, essas mulheres fizeram história nessa área e devem ser sempre lembradas.
Com tanto protagonismo em seu nascimento, esperava-se que as mulheres tivessem uma participação determinante no mercado de tecnologia na atualidade. Infelizmente, a realidade não é bem assim.
O relatório “Como o Brasil pode fomentar um ecossistema de profissionais digitais?”, lançado pelo BrazilLAB e pela Fundação Brava, em parceria com o Centre for Public Impact (CPI). Mostra como nesse setor, a desigualdade de gênero presente em outros espaços da sociedade, também se faz presente.
Diversidade digital
Portanto, a análise do perfil de diversidade na área de tecnologias digitais. Demonstra que acesso ao mercado de trabalho por grupos como mulheres e negros é desproporcional se analisada a população nacional (majoritariamente feminina e negra).
Segundo estimativas do IBGE, em 2018, o Brasil tinha uma população de 51% de mulheres e 49% de homens.
Porque das 47 milhões de vagas de empregos, 44% são ocupadas por mulheres. Entretanto, se observa a proporção por gênero de profissionais no setor de tecnologia a divergência é ainda maior: 37% de mulheres contra 63% de homens.
Ou seja, praticamente a cada três vagas, duas são masculinas. Ao analisar os profissionais do setor por raça/cor, a desproporção continua: apenas 30% dos declarados são pardos, negros ou indígenas.
É claro que o gap de profissionais digitais no Brasil vai muito mais além. Além do mais, o cenário atual é de grande escassez desses perfis: há uma alta demanda na área e as posições abertas são difíceis de serem preenchidas.
Eventualmente, em algumas vagas específicas chegam a ficar abertas por mais de dois meses.
Em contra partida, o cenário tende a se agravar. A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) realizou um estudo analisando o setor de TIC no horizonte de 2018 até 2024.
Novas tecnologias para as empresas
O estudo avalia mais especificamente a criação de softwares e serviços de TIC em empresas privadas. Novamente, o que se espera é uma demanda crescente por profissionais com conhecimentos voltados à área de tecnologias digitais.
A expectativa da associação é de que 420 mil novos postos de trabalho sejam criados até 2024. Assim, demandando perfis tecnológicos em diversas tecnologias e para TI In House (produção de TI em organizações cujo objeto social não é TI).
Este aumento de demanda desperta para a necessidade de formação de mão de obra qualificada. Entretanto, análises com dados do Inep referentes à formação em áreas de tecnologia mostram que o Brasil consegue formar apenas 46 mil pessoas por ano, seja em instituições públicas ou privadas.
Ofertas apresentam relativo descasamento geográfico com o mercado profissional digital
O gap de profissionais, bem como a desigualdade de gênero, acontecem num horizonte de expansão do setor de tecnologia e consequente aumento de demanda por profissionais. Embora precise de profissionais, é evidente que meninas e mulheres não têm ocupado o protagonismo necessário.
Segundo pesquisa da Softex, as mulheres são minoria em posições estratégicas, técnicas e diretivas nas organizações que trabalham com tecnologia, além de receberem 11,05% a menos nas posições relacionadas à Core TI e ocuparem menos de 20% desse mercado de trabalho.
Não há uma razão científica que justifique a baixa participação de mulheres nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Uma pesquisa da McKinsey indica que 47% das estudantes do ensino fundamental demonstram interesse por ciência da computação.
Esse indicador cai para 23% no ensino médio e 19% no ensino superior, evoluindo até chegarmos a patamares desoladores: nós, mulheres latinas, representamos 1% da força de trabalho atuando com computação globalmente.
Por que as mulheres se sentem desmotivadas com a profissão em TI?
Há diversos estudos demonstrando o impacto dessas crenças nas trajetórias profissionais de mulheres. Mas o fato é que há evidências de que as mulheres podem impactar positivamente para o mercado de trabalho.
Os dados só confirmam o que já estamos observando há muito tempo: as mulheres estão perdendo o interesse pela área de tecnologia digital, mesmo sendo um setor em expansão, com vagas atrativas e grandes chances de consolidar uma carreira longeva e de sucesso.
Mas por que isso acontece?
Acontece, ques estereótipos de gênero fazem com que mulheres se sintam menos confiantes em atuando em algumas áreas, não valorizem feedbacks positivos sobre seu trabalho – o que muitos especialistas têm chamado de “síndrome da impostora” – e deixem de manifestar suas ideias no ambiente profissional por considerarem que elas não são tão valiosas ou pertinentes como a de seus colegas homens.
O cenário está mudando
Mesmo com tantos obstáculos para as mulheres, as mudanças estão acontecendo e podemos ver um cenário muito mais inclusivo nos próximos anos.
De acordo com uma pesquisa da empresa de recrutamento Revelo, o número de convites a mulheres para vagas nas profissões tech cresceu de 12%, em 2017, para 17%, em 2019.
Em profissões como desenvolvimento, tecnologia da informação, business intelligence, gestão de negócios, design, finanças e marketing online são algumas das áreas onde a pesquisa detectou esse modesto avanço de convites ao público feminino.
Para que as profissionais em tecnologia cresçam no mercado de trabalho, a sociedade deve caminhar na construção de um mercado de trabalho mais igualitário. Inspirando outras mulheres com programas de incentivo, capacitação e histórias inspiradoras.
A humanidade está avançando, talvez mais devagar do que o necessário e desejável. Porém, já é possível vislumbrar um mundo no qual as meninas e mulheres possam ocupar as ciências e tecnologias.
Com a oportunidade de se desenvolverem plenamente e retomando o histórico das que vieram antes e que, com suas valiosas contribuições, fizeram ser possível a existência dessas áreas.
Feliz dia das Mulheres. Vocês são incríveis!